Temos uma
distinção dual do mundo, que aprendemos ainda muito cedo. Percebemos que existe
um “eu” e o “outro”. O eu, representa a própria consciência, percepção de vida
e o molde psicológico que utilizamos para interpretar o mundo. O outro é o
resto. Tudo que é externo a nossa prória existência. E fim. Enviesados por tão patética percepção
do mundo, superestimamos nossa importancia por obviamente sermos o centro do
nosso universo. Bastante óbvio, já o que deveria ser mais importante? Porém não
é este o problema. O problema é que ao invés de nos mudar para sermos mais
eficientemente felizes em contrapartida com o mundo exterior, ou por outro
lado, mudarmos o nosso ambiente para que se adapte melhor nossa existência,
desistimos de ambos.
Como remédio utilizamos de 2 estratégias para
evitar de encarar nosso próprio fracasso: A primeira opção, seria filtrar todos
as desventuras , inconsistências e infelicidades da vida e simplesmente, finge
que não existem. Nega-se a realidade. Apoia-se nas instituições novas e velhas
que cultuam a vida e a felicidade: religião, posição social, cultura, dinheiro.
Colocando o óculos que melhor case, que tem lentes de cores fixas e desfocadas
para contrastar e dar falsa impressão de colorido ao universo cinzento. Não,
você não é importante. Não, o que você faz não é importante. Sua morte não fará
falta a muita gente e em poucos anos não fará falta a ninguém. Você não tem
talento. Você não é especial. Deus não te ama. A vida de aventuras que pinta, a
existência importante, o modo de ver as coisas diferente dos outros é tudo uma
grande bobagem. Você não é ninguem. Ou pior, é apenas alguem. Não que a
existência seja um inferno, mas está longe do céu. É tudo um meio termo morno e
chato pra quem tem sorte. Pra quem não tem, é uma luta longa e invencível.
A segunda
maneira seria o oposto, e devo confessar a que cometo com mais propensão. Utilizar
todo infortúnio, toda adversidade, cada revés, numa bandeira como forma de
provar que o “outro”, o externo, são um boicote contra seu “eu”. Sofre o
dia-a-dia, incapaz de se libertar da menor das decepções. Isenta-se de culpa,
agindo como vítima do próprio destino, chorando pelos cantos rezando por
atenção, pena e mamadeira. Ninguém liga para seus problemas. Todos temos os
mesmos. Você não é especial. Seu sofrimento não é maior do que o de ninguém.
Você só chora mais, por qualquer coisa. Infelizmente, não é o mundo que deve
ser adapatar a você, e sim você que deve se adaptar ao mundo. Então levanta
essa bunda e vai caçar um modo de melhorar. Mas você não quer melhorar. Onde
estaria então, seu proclamado direito a miséria de espírito e lamúria?
Intercalamos
entre tais estados de espírito, tendo uma tendência maior para um ou outro.
Vamos nos arrastando com maior ou menor empolgação, desimportantes,
irrelevantes e ignorados. Porém há tragédias que são também bênçãos e
vice-versa. Nossa insignificância nos dá liberdade para vivermos e morrermos
como bem entendemos dentro dos limites dos grilhões das circunstâncias. Você
pode fazer o que quiser, porque no fim das contas, ninguém dá a mínima.