quarta-feira, 10 de abril de 2013

Em defesa da vadiação


Não é novidade para ninguém que a cultura tem um peso enorme em nossas ações e ideias. O que impressiona é como algo intangível nos influencia ao ponto de termos como certamente nossos, valores que nos foram introduzidos imperceptivelmente. Com o feriado, uma amostra de tal valia, acabou por revelar-se.
Por mais que passe dias de folga lendo, escrevendo, desenhando, tocando violão, assombra-me um sentimento de inutilidade. Como se não estivesse produzindo nada. Como se fosse meu dever como ser humano nessa terra, produzir alguma coisa. E pior, como se o que eu faço com meu tempo livre fosse não apenas absolutamente irrelevante, mas também de alguma forma, prejudicial.
Mesmo que ler, escrever, tocar um instrumento musical, realizar tarefas domésticas ou até as ocupações mais supérfluas como passar o dia deitado assistindo desenhos animados sejam fundamentais para crescimento cultural e qualidade de vida, é fatal a sensação de vadiagem e procrastinação. Porque não há horários a serem cumpridos, não estou executando tarefas, obedecendo a ordens e ninguém irá avaliar meu desempenho. O tipo de função que ocupa nosso tempo, gerando a sensação de que somos importantes e necessários. Ledo devaneio. Jamais desperdiçarei tantos dias quanto no trabalho ou em todos os níveis escolares que me atarefam desde sempre.
Porém ao ponderar, percebo que o pior de tudo, não é o sentimento de inutilidade que citei inicialmente. E sim o de culpa por não compartilhar o juízo de que eu deveria me preocupar em ser eficiente. Como se cada minuto do meu dia deva ser empenhado em algo que obtenha um resultado tido como relevante por outrem, que possa ser exibido para que prove o meu valor. Pudesse eu viver de vadiação, o faria. Se bem que se me conheço, até nisso seria incapaz de me dedicar com afinco. 

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Até longo meu amigo.


E em um segundo secular,
Você sente que tudo mudou.
Que a terra já não é mais redonda.
Não que as dificuldades e afazeres corriqueiros,
tenham ficado piores.
São os mesmos de sempre. Com a mesma exigência
e empenho.
Mas agora, está sozinho.
E não nada que faça tudo ser mais penoso e triste
do que estar sozinho.
O que dava graça e beleza às horas
se fora.
E você, mesmo sem querer,
principalmente sem querer,
Se vê obrigado e endurecer.
Já não há mais tanto riso.
Nem mesmo lágrimas.
É endurecer, ou desistir de tudo.
Até logo, meu amigo.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

E vc, está 'Serto'?


Sempre que escuto ou leio um discurso ideológico, que defende um posicionamento qualquer, me impressiona como ambos os lados se assemelham na maneira de defender suas ideias. É quase unânime quando se trata de assuntos polémicos usar o argumento ad hominem, de que aqueles que não compartilham o mesmo ponto de vista defendido, o fazem por serem ignorantes e/ou porque são manipulados. Já que defendem, pra todos os efeitos, a verdade. Parece provável que tao preposição seja verídica em alguns casos, pelas devidas razões. Mas não em todos, ou em tantos. Ainda mais se tratando de assuntos cuja verdade não é tão simples de ser encontrada.
Podem dizer que é óbvio que alguém vá defender uma causa apenas se fizer sentido, se parecer verdadeira. Claro. Mas o problema não está em defender uma causa, qualquer seja ela. Mas em fazer dessa ideia um dogma. A preposição então, não é apenas verdadeira mas inquestionável. De forma que todos que não a defendem, só o podem fazer, não pela possibilidade de estarem certos, mas porque ignoram a “verdade”. A partir deste ponto, sua ideologia se tornou uma religião.
A falha de raciocínio lógico em tal caso, é mais fácil de ser entendida do que percebida. Ainda mais laborioso, evitá-la. O processo de religionização ocorre porque ao invés de fazer uso da razão para fundamentar a ideia, a ideia é usada para fundamentar a razão. Esse é o grande perigo de fazer parte de grupos ideológicos. Quando levanta uma bandeira, o indivíduo aceita todo um conjunto de valores e ideias, sem questioná-los. Afinal, quem que questione tais ideias de um grupo, irá fazer parte dele? E qual grupo irá aceitar um membro que o questione?
Mas existe uma razão simples para aceitar ou referir uma ideia como verdadeira precipitadamente. Nomeado pela ciência de “Efeito Dunning-Kruger”.  Um fenómeno em que indivíduos que sabem pouco sobre um assunto, acreditam saber muito, ou mais do que aqueles que realmente conhecem. Todos nós temos um exemplo prático de alguém que se porte dessa maneira. Mais complicado porém, é perceber quando esses indivíduo é você mesmo.