Bastava abrir
uma cerveja num bar qualquer ou apenas um suspiro impaciente durante a espera
infinita de uma fila, para escutar de um transeunte, as mesmas velhas
reclamações: “esse país é um absudo”, “brasileiro é trouxa mesmo”, “ ninguém
quer saber de política, só de futebol”, “ninguém faz nada, ninguém reclama”. Todas
essas conversar, repetidas e revividas com diferentes protagonistas e vilões,
teve sempre o mesmo fim. Um sentimento de injustiça e indignação, um grito
entalado na garganta e uma sensação de desengano. De estar fadado a um destino de
infortúnios.
Pois bem. Em
plena Copa das Confederações, véspera de Copa do Mundo, estamos mostrando que
não somos trouxas e pacatos. O Movimento Passe Livre, já se manifesta em SP faz
um tempo. Porém a atitude da PM representando a resposta do estado às
reivindicações, demonstrando total falta de consideração, diálogo e respeito às
pessoas foi um tapa na cara dos Brasileiros. Ou melhor, um tiro de bala de
borracha na cara. Os sentimentos tantas vezes vividos e acumulados nos pontos
de ônibus, nas filas do posto de saúde, na violência diária civil ou policial,
na violência da pobreza e em tantos incontáveis momentos extrapolaram os limites
da pele e o grito preso, libertou-se.
Gostamos de
futebol, sem dúvida. Mas o futebol não nos leva e traz ao serviço. Não nos
atende no hospital. Não educa nossos filhos. Todos nós brasileiros temos plena
consciência disso. Sempre foi uma distração. Uma maneira de pararmos um pouco
de pensar nas mazelas do dia-a-dia e descansar o coração pesado de sofrimento com
uma futilidade. Agora, o maior tiro no pé da política, o “pão e circo” mais
ineficiente da história provou o ponto. Colocamos em cheque, (não apenas no
Brasil, é uma tendência mundial) a efectividade da tão prometida democracia. Na
época da monarquia, os Inconfidentes reagiram ao ‘Quinto’ que era pago à coroa,
acreditando ser um abuso. Hoje, pagamos um democrático imposto de 40%, o dobro,
obrigatório sob o risco de violência. Portanto, estamos nas ruas exigindo os
resultados prometidos por essa ideia mágica, que até então, apenas nos iludiu.
Pode ser que
nada mude, pode ser que isso não leve a lugar nenhum, infelizmente. Porém, não
resta dúvida de que aqueles que estão no poder e nos vigiam pensarão duas vezes
antes de desafiar e tratar feito idiotas toda uma população. Ademais, mostra um
meio prático e eficiente de exigir mudanças, exigir que sejamos tratados com
respeito. A principal modificação antes que alterações concretas ocorram, é
cultural. Isso está acontecendo. Por volta de 1700 os EUA era uma das nações
mais pobres do mundo. Mas a guerra de independência e os eventos que se
seguiram, influenciaram os valores políticos e econômicos da cultura americana,
que abriu precedentes para o tremendo avanço de tal nação. A ideia de que a
democracia tem necessariamente que ser participativa, que não é apenas votar
uma vez por ano, seria o maior fruto do presente movimento. Portanto, não me
resta senão, ficar cheio de esperança. Estamos de saco cheio, e mais unidos do
que nunca. Se esse ultraje contra o povo continuar, a Bastilha irá cair. Cabeças
hão de rolar.
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