terça-feira, 28 de setembro de 2010

Desconselhos

Pare com isso! Pare de mentir, pare de se esconder nessa fantasia ridícula que você inventou pra si mesmo. Pare de tentar justificar seus erros e seus defeitos. Você é mesmo esse cara. Esse que traiu o amigo. Esse que correu da briga quando todos precisavam dele. Esse que tem uma vida inventada para agradar os outros. Acabe com isso!
Levante a cabeça! Pare de andar na rua com a cabeça baixa. As pessoas estão rindo de você pelas costas! Inclusive esses seus falsos amigos. Preste atenção ao que acontece a sua volta! Pare com esse fingimento, essa fraqueza! Você é um fracasso total, aceite isso. Como para os alcoólatras, aceitar é o primeiro passo. Aceite que está no fundo do posso, para então poder sair. Levante a cabeça, tenha postura. Olhe nos olhos das pessoas. Quer beber?  Beba! Quer fumar? Fume. Os outros se importam? Eles que se fodam.
Tome suas próprias decisões, não aceite que as pessoas escolham por você. Tome iniciativa! Essa bosta de vida é a sua. E quais são as garantias que você tem, que não é também a única? Portanto, assuma o controle dela. Tenha opinião. Não fique em cima do muro. Brigue, xingue, grite. Faça inimigos respeitáveis, e faça com que eles te respeitem.  Para tanto, seja justo e honrado. Por tais virtudes que as pessoas devem te conhecer, e não por essa bosta de roupa que você usa e por essa fala mansa e fingida. Não seja conveniente. Se há uma única frase que preste na Bíblia é em Apocalipse 3:16 “Assim porque és morno e não és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da Minha boca.” Até seu Deus rejeita os mornos. Não seja morno.
Então, quando já estiver no embalado na segurança em você e feliz com as decisões que você mesmo tomou, você cairá de cara no chão. Pode ter certeza disso. Desnorteado e com medo, vai se envergonhar e vai querer vestir novamente sua fantasia. Não faça isso. Se levante, respire fundo e caminhe de cabeça erguida mais uma vez. Afinal o que importa é aceitar o que somos pelo que podemos nos tornar. Para que no fim, se orgulhe de quem realmente é, ao invés de se esconder miseravelmente como tem feito até hoje.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

A Arte de Gil Vicente


Graças à repercussão causada pelo posicionamento da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP) contra a ultima exposição do artista plástico Gil Vicente, tive o prazer de poder conhecer essas obras. Não pessoalmente, mas mesmo assim são fantásticas. O artista pernambucano, criou em carvão sobre papel, imagens em tamanho real do próprio artista matando personalidades que ele chama em entrevista a Veja de "uns ladrões sujos".
Gil deixa clara sua indignação com essas pessoas e a expressa da forma mais forte possível: matando-as. Nada é mais óbvio do que isso. Nada é mais sincero do que isso. Sem hipocrisias, sem eufemismos. Ele nos faz lembrar do dramaturgo homônimo português, que condenava as figuras sociais de sua época ao inferno.Mas diferente do escritor medieval, o artista se coloca na posição de carrasco. A cena é de um ódio frio, mas heróico. Basta olhar atentamente por alguns segundos para se enxergar claramente a cena do instante anterior ao desenrolar trágico. Brilhante. Vale a pena conferir as outras imagens:
E a entrevista do autor das obras para Veja:

Não vou comentar sobre a decisão da OAB, porque é incrivelmente ridícula por si só. Não merece que o post destinado ao Gil Vicente dê enfase a isso. Também não quero questionar se concordo ou não com as pessoas retratadas, foi escolha pessoal do artista. O importante é a forma com que ele demonstra a sua indignação e sua coragem para fazê-lo, e não o objeto retratado.
Parabéns Gil Vicente.

domingo, 19 de setembro de 2010

Trato de Hipocrisia Recíproca

Todos nós vivemos o mesmo teatrinho. Acordamos cedo e logo ao abrir os olhos nos despedimos de quem realmente somos. Desse momento adiante, o que se apresenta ao mundo é a nossa persona dramática. Vestimos a roupa e a máscara que usaremos no dia, criamos nossos desejos, tanto os de longo prazo quantos nossos caprichos momentâneos. Criamos uma ilusão sobre quem somos, sobre quem queremos ser, sobre quem as outras pessoas são e sobre o que elas pensam sobre nos. Então nos dedicamos à tarefa de tentar mostrá-las que não somos quem eles pensam que somos, e sim quem nós mesmos imaginamos que somos, ou que deveríamos ser. A todo custo precisamos que acreditem nisso, porque nós mesmos precisamos acreditar. Não dá pra acreditar que cada um de nós não passa desse ser estúpido, limitado, sem virtude que se encara diariamente no espelho.
Então começa o espetáculo. Temos que esconder nossos defeitos e nossa falha de caráter a todo custo. Para ficar mais real, é necessário que acreditemos na personagem. Precisamos acreditar que somos honestos, que somos inteligentes, que somos leais, que somos honrados. Precisamos acreditar nas qualidades que nós não temos. ‘Não me peça provas além de minhas palavras, que eu não pedirei que você prove seus valores. Assim estamos combinados. ’ É o significado das trocas de olhares entre os seres humanos.
Percebemos também que algumas pessoas exigem de nós qualidades diferentes para que se mantenha o trato de hipocrisia recíproca. Negociamos as qualidades aceitáveis para se manter a relação. Isso em qualquer relação entre os Homo sapiens sapiens . Para algumas pessoas não faz diferença que a outra seja uma pessoa séria, mas exige fidelidade, ou então é irrelevante que seja justa, contando que seja divertida. E por aí vai. Vamos selecionando as características de nossa personalidade, nossas qualidades e defeitos e a do próximo de acordo com cada tipo de interação, de acordo com a conveniência. É óbvio como não somos a mesma pessoa com nossos pais, amigos, professores, namoradas. Estamos nos montando e remontando o tempo todo. Por isso ficamos com a sensação vazia de não saber quem somos ou o que queremos de verdade. Isso explica toda a confusão mental a cerca de nós mesmos. Porque no final das contas, não somos os atores que apresentam o espetáculo. Somos o diretor que está sentado invisível no fundo do teatro tentando organizar a apresentação. No fundo, conseguimos apenas interpretar ou ver os atores de cada um de nós. Podemos até dar um palpite ou outro durante a peça, porém dirigir é inacessível a nossa consciência.
Por isso também que não gostamos da verdade nua e crua. Quebra o trato de hipocrisia recíproca e coloca em xeque a nossa personalidade falsa e efêmera. A máscara é tudo o que somos, sem a máscara não somos nada. Portanto necessitamos de auto-afirmação. Precisamos masturbar nossos egos e os egos das pessoas de quem gostamos. Precisamos afirmar nossa superficialidade, porque é tudo que está ao nosso alcance e ao alcance das pessoas próximas a nós. Não critique a minha superficialidade, porque é tudo que eu tenho!