quinta-feira, 30 de maio de 2013

Uma língua

Uma daquelas semanas, em que todas as tarefas postergadas durante o semestre acumulam para serem resolvidas em poucos dias. Dormindo mal e comendo pior, o cansaço colocava em dúvida a minha capacidade de manter o ritmo. Quinta-feira, 21:30 na estação a espera do metro. A cabeça lutava para racionalizar tudo que ainda faltava, mas de certa forma aliviada pelas tarefas já resolvidas.
Andando em meio às pessoas impacientes pelo veículo que nunca chegava, seguia uma miúda, como dizem por aqui. Passos curtos e ligeiros, tentando acompanhar a mãe, devia ter por volta de 4 a 6 anos de idade. Observando tudo e a todos com um interesse que só as crianças têm, antes de se tornarem enfadonhas e chatas como o resto de nós. Passou, me encarando. Minha mente sobrecarregada e agora mais ainda com a tarefa de questionar quanto tempo levaria para que finalmente alcançasse o sono, tentou sem sucesso entender o que aquele olhar significava. E antes que chegasse a qualquer conclusão, a expressão da face a minha frente se altera, e ela me mostra a língua. 
Aquele gesto me acertou. Fiquei um tempo pasmo pelo trato de desdém a que fui submetido, e não tive outra reacção senão rir com vontade. Eu, concentrado nas minhas ocupações presumidamente importantes, recebi, por obra da eventualidade, a resposta da devida relevância de meu ofício.

Foi a interacção humana mais sincera que tive em dias. 

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