Uma daquelas
semanas, em que todas as tarefas postergadas durante o semestre acumulam para
serem resolvidas em poucos dias. Dormindo mal e comendo pior, o cansaço
colocava em dúvida a minha capacidade de manter o ritmo. Quinta-feira, 21:30 na
estação a espera do metro. A cabeça lutava para racionalizar tudo que ainda
faltava, mas de certa forma aliviada pelas tarefas já resolvidas.
Andando em meio
às pessoas impacientes pelo veículo que nunca chegava, seguia uma miúda, como
dizem por aqui. Passos curtos e ligeiros, tentando acompanhar a mãe, devia ter
por volta de 4 a 6 anos de idade. Observando tudo e a todos com um interesse
que só as crianças têm, antes de se tornarem enfadonhas e chatas como o resto
de nós. Passou, me encarando. Minha mente sobrecarregada e agora mais ainda com
a tarefa de questionar quanto tempo levaria para que finalmente alcançasse o
sono, tentou sem sucesso entender o que aquele olhar significava. E antes que
chegasse a qualquer conclusão, a expressão da face a minha frente se altera, e
ela me mostra a língua.
Aquele gesto me
acertou. Fiquei um tempo pasmo pelo trato de desdém a que fui submetido, e não
tive outra reacção senão rir com vontade. Eu, concentrado nas minhas ocupações
presumidamente importantes, recebi, por obra da eventualidade, a resposta da
devida relevância de meu ofício.
Foi a interacção
humana mais sincera que tive em dias.
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