segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Privacidade alheia: use e abuse.

Somos animais sociais. É mais seguro, mais confortável, mais vantajoso. Nosso corpo é adaptado para essa situação. Nossos ouvidos são desenvolvidos para detectar principalmente a freqüência de voz humana, nossos olhos percebem rostos e emoções em figuras abstratas tais como “:-)”. 
No início de nossas vidas em comunidades os agrupamentos eram basicamente familias. Mas por um motivo qualquer como comida, água ou abrigo, esses ajuntamentos foram aumentando. Porém, um grande grupo não era apenas um grupo. Era um conjunto de pequenos grupos. Portanto, a configuração inicial se manteve. Pequenas famílias que conviviam entre si. O que mudou, é que essas famílias agora se relacionavam com outras famílias. 
Quando passamos a viver em cidades, ainda se mantiveram as estruturas de pequenos grupos. Mas não organizado em famílias, e sim unidos pela proximidade das moradias. Nas pequenas cidades, todos se conhecem e compartilham informações sobre suas vidas uns com os outros de uma forma ampla entre todas as pessoas. Porém, em cidades maiores, as vizinhanças assumiram esse papel. Os relacionamentos entre grupos além da estrutura familiar de pai, mãe e filhos eram entre aqueles que compartilhavam um local comum de morada. E nesses locais, assim como nas pequenas cidades, as pessoas compartilhavam informações sobre suas vidas.
Dito isso, convido-o a perceber que não há mais essa convivência entre os vizinhos. Nem conhecemos muitos deles, nem mesmo aqueles que moram no mesmo prédio que a gente. Conhecemos um ou outro, mas não a ponto de ter qualquer relação fora do que nos obriga a cordialidade e a diplomacia. É claro que isso é de uma forma geral, sortudo aquele que conhece a todos e tem verdadeira amizade com seus vizinhos. Pois isso ainda existe.
Então, como é que suprimos a falta de intimidade contemporânea? Como conseguimos sobreviver sem saber da vida daqueles que conhecemos para a partir de então, tomarmos decisões sobre a nossa vida? Como conseguimos escolher a forma de agir sem olhos curiosos sobre nós e sem os dedos apontando os vencedores e os perdedores para deixar tudo bem claro? Sem ninguém para criticar nosso modo de vida?
 A resposta é que não conseguimos. Precisamos que as outra pessoas determinem os padrões de comportamento que devemos ter, as roupas que devemos vestir, as coisas que devemos comprar. Então, inteligentemente, acostumados a usar de ferramentas para solucionar problemas, resolvemos essa questão. Agora temos dois aparelhos quadrados, de tamanhos variados, que nos contam sobre a vida de estranhos ou de conhecidos, a vidas de pessoas reais representando pessoas irreais, ou a vida irreal de pessoas reais. É só escolher. Qual a mentira você quer para hoje? Qual convenção social inventada se enquadra mais no seu perfil?A novela, o filme, o Orkut, o twitter?  Hoje, podemos escolher. Hoje vivemos a fofoca informatizada e televisionada. O mexerico self-service. Auto-serviço da privacidade alheia. Genial, não?

2 comentários:

  1. Eu não sei se precisamos necessariamente dos outros para pautar nossas opiniões, mas há uma grande influência, não há dúvidas.

    E a era da informação é muito útil, mas, infelizmente, trouxe muito desperdício também.

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  2. Acho que realmente precisamos dos outros para nos pautar, mas eu me pergunto: até que ponto podemos nos deixar influenciar?

    Bom texto, querido!

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