Mas porque raios comemoramos a morte de um cara? Obviamente não comemoramos o fato de que ele esteja morto, mas o ritual perante um assassinato brutal não me parece saudável. Os moralistas repudiam violência na televisão e nos jogos de vídeo game argumentando que não faz bem para as crianças, mas colocam seus filhos frente a uma cena aterrorizante: a tortura e crucificação de um homem. É difícil imaginarmos visão mais cruel do que a do teatro encenado em cada cidade e a do filme exibido repetidamente e insistentemente nos canais de televisão aberta.
O símbolo por si já é deprimente. Uma cruz, e freqüentemente com um homem preso a ela. Faz-me pensar em uma pergunta, desconheço a autoria, que diz: “Se Cristo fosse eletrocutado, andaríamos com replicas de cadeiras elétricas penduradas em nossos pescoços?” Eu olho para o objeto preso à parede da sala de casa, e me choco. A religião é algo que deve nos confortar e acalmar nossas angustias perante o sofrimento irremediável da vida. Mas ao ver essa cena, isso apenas me deprime. O culto a essa morte nos amedronta. Serve para lembrar que nosso Deus não é tão bom quanto pensamos.
Como podemos ter um ritual de morte como algo sagrado? Não me venha com a história de que cristo “morreu para pagar nossos pecados” como justificativa, pois é essa a parte mais desumana. Matamos um cara para sermos perdoados por Deus? Então, no século XXI aceitamos um sacrifício humano na nossa cultura com naturalidade? Tal homicídio foi justificado? O que justificaria um assassinato brutal de um inocente? Apenas para esclarecer, quando uso o termo “nós”, não digo os católicos ou cristãos, porque não faço parte de nenhum dos dois grupos. Mas generalizo porque trato de nós, os ocidentais. Nossa cultura foi fundamentada no cristianismo. O Brasil é um país cristão.
O que parece é que somos mais apegados a tradições medievais do que imaginamos. A forma de pensar quando assumimos que o assunto é religião muda completamente em relação ao que pensamos no dia-a-dia. Crimes brutais nos chocam, e jamais aceitamos justificativas para isso. Mas em um caso em especial, é diferente. Jesus foi brutalmente torturado e assassinado e sequer seus apóstolos tiveram a decência de fazer algo para defendê-lo. Ao contrário, mentiram e se esconderam, permitindo uma injustiça. Judas Iscariotes foi o único que teve alguma dignidade e se matou, incapaz de lidar com a situação.