Sim.
Esperava o velho cliché de um dia como outro qualquer. Mas na verdade, fora um
tanto pior. Demorado, mesmo para uma quinta-feira. O sentimento de
incompetência profissional e fiasco pessoal eclodiram quase que ao mesmo tempo
nas bravatas rudes do chefe e ao descobrir, por acidente, que o antigo (e nem
por isso menos eterno) amor estava noiva de um qualquer.
Resignado,
ao menos já estava em casa. A fome remanescia extinta, mas não faria falta. De
fato, havia muito para ser digerido hoje. Arranca as roupas na sala mesmo, logo
que chega. Afinal, não há mais ninguém em casa. Não há mais ninguém em canto
algum. A camisa molhada de lágrimas e suor, a calça amarrotada e no corpo por
mais de uma semana, se mostrava tão liquidada quanto quem a usava.
Sentado no vaso
sanitário, se vê burro, velho, disforme e falido. No momento, não sente em nada diferente da matéria fecal que suja a porcelana alva. É apenas uma extensão de seu corpo. Sem forças para acreditar em
mudanças positivas, se pergunta se as coisas podem ainda ficar piores. Mas o
velho axioma mostra-se plausível, quando um som mata o silêncio sepulcral do
banheiro e ao girar o rosto, um segundo antes das luzes se apagarem, vê a maçaneta dar meia volta...